sexta-feira, 26 de outubro de 2012


Maquiavel era maquiavélico?

Vivendo entre 1469 e 1527, Mais de quatro séculos nos separam da época em que viveu Maquiavel. Muitos leram e comentaram sua obra, mas um número consideravelmente maior de pessoas evoca seu nome ou pelo menos os termos que aí tem sua origem. "Maquiavélico e maquiavelismo" são adjetivo e substantivo que estão tanto no discurso erudito, no debate político, quanto na fala do dia-a-dia. Ao contrário do que diz a lenda, Maquiavel não foi um oportunista mau caráter. A expressão “maquiavélico” para definir alguém esperto e sem escrúpulos é uma deformação da história. Maquiavel realmente foi muito sagaz e com grande visão, mas tinha muitos escrúpulos. "O mais seguro é fazer aquilo que é costume. Quem deixar de fazer o que é de costume, para fazer o que 'deveria' ser feito, encaminha-se mais para a ruína”. 

Em textos soberbos cultivou uma ironia discreta em relação ao seu tempo, carregada de desalento resignado em face da realidade, característica que muitos confundem com cinismo: A admiração (e o ódio) que sua inteligência despertou naquele tempo deriva da coragem que teve ao  escrever certas verdades: "É muito mais seguro ser temido do que ser amado  Os homens são capazes de ofender a quem amam. Mas não tem coragem de ofender aquele que temem, pois este poderá castigá-los.” Isto é, Maquiavel não era maquiavélico. Era realista e entendia o jogo político.

                 Virtú e Fortuna

Esses dois conceitos inauguram um novo momento da filosofia política, a partir deles começa-se a pensar política de forma política, ao contrário de antes que se abordava o tema a partir de análises religiosas ou morais.

Fortuna diz respeito às circunstâncias, ao tempo presente e as necessidades do mesmo, a sorte da pessoa. É a ordem das coisas em todas as dimensões da realidade que influenciam a política, é externa ao homem e desafia suas capacidades.

Virtú ( traduzindo do Latim para o Português: Virtude, porém é melhor usar Virtú, para não confundir com a virtude moral) é justamente a capacidade do indivíduo (político) de controle das ocasiões e acontecimentos, ou seja, da fortuna. 

O político com grande Virtú vê justamente na Fortuna a possibilidade da construção de uma estratégia para controlá-la e alcançar determinada finalidade, agindo frente a uma determinada circunstancia, percebendo seus limites e explorando as possibilidades perante os mesmos. A Virtú está sempre analisando a Fortuna e, portanto, não existe em abstrato, não existe uma fórmula, ela varia de acordo com a situação.Talvez de uma má interpretação desses conceitos que tem origem a visão maquiavélica de Maquiavel. Pois, os fins justificam os meios dentro de uma determinada situação política que sofre influência de outras dimensões como a social, a econômica e a moral e cabe ao político com as suas capacidades de análise e de estratégia achar um meio perante essa conjuntura para realização de um determinado fim.


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